Hedi Wagner Barbosa, Colunista do OGRANDENORTE
A reeleição do prefeito Kinca Dias em Salinas, com mais de 14.600 votos, reflete um cenário político marcado por intensas articulações e surpresas. A vitória expressiva solidificou a liderança de Kinca, mas também expôs fissuras profundas nos bastidores políticos. Os “barrigas verdes” – como são conhecidos os grupos mais tradicionais e conservadores da cidade – saíram triunfantes desta disputa, enquanto a “inteligência do papo amarelo”, que em alguns momentos parecia dominar o campo estratégico, viu-se derrotada por seus próprios jogos de egoísmo e individualismo.
Entre os episódios que se destacam, estão as traições dentro de chapas, promessas vazias e ofertas de cargos que seduziram antigos aliados. Foi uma campanha onde, mais do que nunca, as alianças se provaram frágeis e facilmente rompíveis. O legislativo municipal também promete ser renovado com a chegada de novas figuras, trazendo a expectativa de uma “Nova Política”. Mas será que essas caras novas de fato romperão com as práticas antigas, ou se renderão à velha engrenagem do poder?
A criação da ASTRASAL, associação voltada para fiscalizar os poderes e garantir a transparência, também será posta à prova. Seu presidente, agora cercado por aqueles que lhe deram as costas durante a campanha, enfrentará o desafio de manter a integridade da instituição em meio a um ambiente de traições e deslealdades. Se Kinca Dias prometeu um governo mais eficiente e austero, será fundamental que a ASTRASAL desempenhe seu papel de maneira isenta, sem ser corrompida pelos interesses que permeiam a política local.
Nesse contexto, cabe uma reflexão importante para todos os envolvidos. Campanhas eleitorais e disputas por poder, quando movidas apenas pelo coração e pela paixão, tendem a ser engolidas pelo sistema. A "cabeça de gelo" – a habilidade de agir com cautela, sem se deixar levar por impulsos emocionais – se torna fundamental para não cair nas armadilhas do jogo político. O sistema é impiedoso com aqueles que agem de maneira impulsiva, e a deslealdade está sempre à espreita.
O que fica claro, a partir de agora, é que os próximos quatro anos começam imediatamente. A campanha, na verdade, nunca acaba. As articulações, as trocas de apoio e os desafios de governar com uma base política diversa serão a realidade diária de Kinca Dias e de seu time. Os olhos de Salinas estarão atentos para ver se as promessas de enxugamento, austeridade e renovação serão cumpridas ou se tudo permanecerá como antes. A lição que muitos terão que aprender é que a política não se faz apenas com palavras bonitas ou estratégias de momento. Ela exige preparo, frieza e, acima de tudo, a capacidade de manter os pés no chão diante de um sistema que, como bem sabemos, pode devorar aqueles que não estão prontos para enfrentá-lo.
Agora é tempo de Salinas observar, com olhos atentos e crítica afiada, os desdobramentos dessa nova fase.